Mergulhar é uma das minhas grandes paixões, e desde que me tornei uma mergulhadora há 1 ano atrás, não tinha ideia dos pontos de mergulhos que ainda iria mergulhar e nem dos desafios que iria enfrentar. Até o momento eu ainda não havia dedicado um post inteiro só à um ponto de mergulho. No entanto, depois de ter visto o naufrágio do SS Thistlegorm, o qual está afundado no Mar Vermelho, eu simplesmente não tinha outra escolha senão escrever um post dedicado à ele.
Um pouco de história
Além de ser considerado o terceiro melhor ponto de mergulho do mundo, o SS Thistlegorm carrega com ele uma história muito interessante; razão pela qual acreditei que seria interessante dividir com vocês. Mesmo que não sejam mergulhadores, nem pretendam ser ou que até tenham medo do fundo do mar, acho que devem ler/ver até o final do post. Estou prestes à levá-los comigo ao fundo do mar, para ver um dos naufrágios mais famosos do planeta, e vocês nem vão precisar se molhar!
O SS Thistlegorm era um navio a vapor Britânico de 126m de comprimento. Foi estreado em Abril de 1940 e fez somente quatro viagens, a última sem final feliz. O navio foi usado principalmente para carga; antes de sua última viagem ele chegou a transportar açúcar, rum, grãos e até mesmo aço para trilhos de trem e partes de aviões.
A última viagem do navio foi originada em Glasgow, Escócia, no dia 2 de Junho de 1941, e seu destino final era Alexandria, Egito. O SS Thistlegorm estava transportando mantimentos para as forças Aliadas do Egito durante a Segunda Guerra Mundial: vagões de trens, caminhonetes, carros-tanque, motocicletas, armas, munições, rifles, equipamento de rádio, partes de aviões e até mesmo botas, muitas botas (até hoje ninguém entende quem precisaria usar essas botas no deserto!).
No dia 6 de Outubro de 1941, depois de haver enfrentado desafios ao longo de sua viagem e após ancorar na área segura chamada de F, o SS Thistlegorm foi bombardeado por aviões alemães que originalmente estava, à procura da Rainha Mary. Dos 41 membros da tripulação, 9 morreram. A localização do navio ficou desconhecida até 1955, quando o famoso Jacques-Yves Cousteau o encontrou depois de seguir coordenadas fornecidas por pescadores locais. Naquela época ele decidiu não revelar a localização exata do navio, a qual foi redescoberta em 1974.
Com o crescimento da cidade de Sharm-El-Sheikh, veio o turismo e a prática de mergulho na região, e em 1992 a localização exata do SS Thistlegorm foi finalmente revelada. Desde então, o naufrágio atrai milhares de mergulhadores por ano, e tornou-se um dos melhores e mais populares pontos de mergulho do mundo.
O mergulho
É possível mergulhar no SS Thistlegorm pegando um barco de Sharm-El-Sheikh, viagem esta que demora 4 horas só ida, ou estando à bordo de um Safari/Liveaboard. O navio está à 30m de profundidade, mas já pode ser visto aos 13m. Ele é considerado um “museu gigante submerso”, e é um naufrágio único, onde praticamente tudo permaneceu intocado desde sua explosão, durante a Segunda Guerra Mundial.
Ainda é possível ver bombas intactas – as quais não foram explodidas – muitas motocicletas, caminhonetes, vagões de trem e tudo que estava à bordo no navio quando o mesmo foi afundado. O lugar é lindo e cheio de vida marinha, tem peixe em todo lugar e até dá para se perder no meio deles.
Indo com um centro de mergulho, dois mergulhos são realizados em um dia. Normalmente (dependendo da corrente) o primeiro é feito ao redor do navio, quando no segundo é possível entrar em seus compartimentos. Aqui está uma ilustração de como os mergulhos são feitos:
O mergulho começa após o guia amarrar uma corda no naufrágio. Por causa das fortes correntes do lugar, os mergulhadores precisam descer usando uma corda que liga o barco do centro de mergulho ao navio. O desafio é encontrar a corda do seu barco quando for voltar à superfície, já que o ponto de mergulho está sempre cheio de visitantes. De qualquer forma, pegue qualquer uma, o importante é subir com a corda.
Tenho que admitir que quando comecei a descer não tinha ideia para onde estava indo. A visibilidade estava muito ruim e eu não conseguia ver nada, somente o azul escuro do fundo do mar. A corrente estava muito forte e balançava a corda de um lado para o outro; em um certo momento pensei: o que é que eu estou fazendo aqui?! Foi somente após ver aquele lindo e enorme navio que eu entendi o quanto esse mergulho valeu a pena.
O mergulho foi meio caótico; muita gente e muitas nadadeiras para todo lado, algumas pessoas do meu grupo se perderam da gente por nos ter confundido com outro grupo. Enquanto tentávamos achá-los tivemos que nos segurar no navio para que a corrente não nos levássemos. Tudo deu certo e tive a chance de ver esse gigante museu da Segunda Guerra Mundial submerso pelo lado de fora. Que coisa linda!
Feliz de ter retornado segura ao navio após o primeiro mergulho, eu estava mais forte e preparada para o segundo. Dessa vez teria mais um item inseparável: uma lanterna. Era hora de penetrar o navio e explorar seus compartimentos…
Não falei que ia levá-los ao fundo do mar comigo?!
Desde criança eu sonhava em mergulhar, em explorar navios gigantes no fundo do mar. Foi assustador, a adrenalina tomava conta do meu corpo, mas não resisti à um sorriso. Meu pensamento: eu consegui! Estou mergulhando um dos naufrágios mais famosos do mundo à 28m de profundidade, e esse foi o meu mergulho número 50!
Que experiência inesquecível. Fui desafiada de formas diferentes e levarei para sempre na memória as lembranças desses mergulhos. Acordar às 4 da manhã e passar mais de 8 horas em um barco valeu a pena. E ser a única brasileira entre britânicos e alemães no barco foi interessante! Falando em alemães, um agradecimento especial ao W por ter feito essas imagens sem o meu conhecimento… que bom que ele fez!
Se vocês tiverem interesse em saber um pouco mais sobre o SS Thistlegorm, podem visitar esse site em inglês, ler alguns livros que já foram publicados sobre o navio, ou ver o documentário “Thistlegorm’s last voyage” por Caroline Hawkins.