Nos meus tempos de escola, quando ainda morava no Brasil, sempre fui uma estudante muito curiosa quando assunto era a Segunda Guerra Mundial. Apesar do Brasil nunca ter participado tão diretamente nesses tempos sombrios na Europa, por algum motivo sempre fui muito interessada em aprender mais e mais sobre o tema. Não tinha ideia de que um dia casaria com um alemão, com quem aprenderia tanto sobre as consequências desastrosas dessa guerra. Também não tinha ideia que um dia teria a oportunidade de pisar em lugares onde importantes batalhas ocorreram, uma aula de história ao ar livre, graças à Liberation Route Europe.
A Rota da Libertação (Liberation Route) foi o caminho percorrido pelas forças aliadas em busca de libertar a Europa da Alemanha nazista. Tudo começou no Dia D, 6 de junho de 1944 na Normandia, França. As tropas americanas, com o apoio das tropas canadenses e britânicas, percorreram a França, Luxemburgo, Bélgica, Holanda, Alemanha, Itália e Polônia, enfrentando o inimigo cara a cara para libertar cidade após cidade.
Fundada em 2008, a Liberation Route Europe Foundation possui como objetivo homenagear e manter viva a memória daqueles que perderam suas vidas durante a Segunda Guerra para prover paz e liberdade. Em 2012 a fundação conseguiu apoio suficiente pare desenvolver e colocar em prática esse projeto maravilhoso chamado de Liberation Route Europe (LRE), o qual é uma trilha que conecta as regiões onde as forças aliadas passaram no caminho para libertar a Europa.
Há poucas semanas tive a oportunidade de seguir a Rota da Libertação por Luxemburgo, Bélgica e Holanda, inspirada na famosa “Batalha do Bulge”. O nome da batalha pode não ser muito familiar para nós brasileiros, mas foi umas das mais importantes, decisivas e sangrentas da época, um grande passo na libertação da Europa e ao mesmo tempo fracasso de Hitler. Quem tem interesse em descobrir mais sobre ela, pode assistir a famosa série da HBO de 2001, “Band of Brothers”.
Por 3 dias tive uma das mais inesquecíveis aulas de história da minha vida, graças aos guias e historiadores que me forneceram um pouco de seus extensos conhecimentos durante minha visita. Qualquer um de vocês pode fazer a mesma viagem, ou pode também optar por conhecer alguns desses lugares caso esteja de passagem por um dos 3 países. Abaixo vocês encontram o roteiro que percorri, bem como os lugares históricos que visitei ao longo do caminho:
Primeiro dia – Luxemburgo
Luxembourg American Cemetery and Memorial
Nem todo mundo sabe, mas o corpo do famoso americano General Patton está enterrado nesse cemitério, que por sinal é um lugar imenso com milhares de soldados que morreram durante a guerra enterrados. Milhares de visitantes passam por lá todos os anos, inclusive veteranos da guerra. Aqui, cada cova tem uma história incrível por trás.
Horários de abertura
Diariamente as 09:00 às 17:00 (exceto 25 de dezembro e 1º de janeiro)
Site oficial
National Museum of Military History de Diekirch
Provavelmente um dos museus mais interessantes que já visitei, e olha que não curto museus. De fora nem dá para imaginar o acervo de detalhes que há lá dentro, onde é possível encontrar desde pequenos detalhes até grandes remanescentes da Segunda Guerra. Roupas e objetos de soldados, documentos e fotos originais, tanques, jeeps, armas como diversos tipos de minas (claro que desarmadas), embalagens de comida, pôsters e até mesmo uma Enigma.
Horários de abertura
De terça – domingo: 10:00 – 18:00
Fechado dia 25 de dezembro, 1º de janeiro e domingo de carnaval.
Entrada: 5 euros por adulto
Site oficial
Tour histórico por Diekirch e Ettelbruck
Tanto Diekirch como Ettelbruck foram cidades importantes em Luxemburgo ao fim da Segunda Guerra, onde soldados americanos lutaram cara a cara contra os alemães. Ettelbruck é conhecida como “a cidade de Patton”, onde há um memorial dedicado ao famoso general, bem como um museu com fotografias, artefatos e documentos da época.
Na região é possível visitar pontes que foram construídas por soldados para o transporte de mantimentos de um lado do rio ao outro, bem como a minúscula vila de Goebelsmühle, onde os alemães usavam a estação de trem para conseguir seus mantimentos. A região toda é incrivelmente linda, servindo como um cenário maravilhoso para fazer trilha à pé ou de bicicleta.
Segundo dia – Luxemburgo/Bélgica
GI Memorial e CEBA Museum em Clervaux
O memorial e o museu estão localizados exatamente onde a história aconteceu, no lindo Castelo de Clervaux, em Luxemburgo. Lá, é possível ver de pertinho o tanque americano (um Sherman M4) original que defendeu a cidade dos alemães, bem como as perfurações de balas nos muros ali ao redor. O destaque aqui é poder ouvir a história e sentir-se parte dela.
Mais informações no site oficial.
Trilha Schumann’s Eck
Essa trilha te leva à importantes pontos onde ocorreu a Batalha do Bulge. Por lá, milhares e milhares de soldados tanto alemães quanto americanos, morreram lutando uns contra os outros. Hoje em dia, pela trilha é possível ver os buracos onde os soldados se escondiam, os famosos foxholes, bem como um lugar onde uma bomba explodiu.
Há também uma parte da trilha onde é possível ficar entre os dois lados de onde a guerra ocorreu, de um lado, onde os alemães ficavam, do outro, os americanos, tudo isso à poucos passos um do outro. A Schumann’s Eck é um importante local para Luxemburgo e para a Rota da Libertação, bem como uma memória viva da Batalha do Bulge.
Mais informações aqui.
O Bastogne War Museum
Uma parada obrigatória para quem está visitando Bastogne, na Bélgica, o museu te leva aos tempos da Segunda Guerra onde você é guiado por 4 personagens fictícios da época. Além de documentos originais (até mesmo uma cópia do livro original de Hitler, Minha Luta), artefatos, fotos e roupas, há também muitos efeitos visuais que explicam como a guerra começou e terminou, focando na Batalha do Bulge, importantíssima para Bastogne.
Para horários de abertura e mais informações, visite Bastogne War Museum
Terceiro dia – Bélgica/Holanda
Tour de Jeep por Bastogne e almoço estilo Segunda Guerra
E se eu dissesse que é possível andar em um Jeep original de 1944 do exército americano por Bastogne? Tive a chance de fazer exatamente isso, e de quebra ainda teve uma pausa para almoço estilo soldados da Segunda Guerra. Durante o tour, foi possível também visitar uma pequena vila que foi praticamente inteira destruída, Sainlez, e um cemitério de soldados alemães, o German War Cemetery Recogne, um lugar incrivelmente triste onde milhares de soldados alemães bem jovens (alguns até mesmo com 14 anos de idade) estão enterrados.
Para mais informações sobre o tour de jeep, visite o site da Ardennes White Star
Netherlands American Cemetery and Memorial em Margraten
A última parada do roteiro foi no único cemitério americano dedicado a soldados na Holanda. Lá, mais de 8,000 soldados estão enterrados, e além da beleza da entrada, outro destaque é que pessoas da comunidade local adotam covas para cuidar e visitar. As mesmas são passadas de geração em geração, e há muitas histórias interessantes sobre o relacionamento das famílias americanas dos soldados com as pessoas que adotam as covas.
Horário de abertura
Diariamente das 09:00 às 17:00 (exceto 25 de dezembro e 1º de janeiro)
Site oficial
Bom saber
Cada lugar histórico ao longo da Rota da Libertação é verificado e comprovado por historiadores e espertos. A fundação Liberation Route trabalha com mais de 150 organizações parceiras e membros, é ativa em 8 países europeus e promove mais de 300 sítios históricos e memoriais pela Europa.
Onde se hospedar ao longo da rota
Hotel des Ardennes, Hoscheid, Luxemburgo
Nuts Castle, Bastogne, Bélgica
Durante a Segunda Guerra, esse lindo castelo serviu como base para os soldados americanos da Airborne da 101ª divisão durante a Batalha do Bulge.
Onde comer ao longo da rota
Gudd Dikrich, Diekirch, Luxemburgo
La Fourchette Dorée, Wiltz, Luxemburgo
Le Nut’s, Bastogne, Bélgica
De Pastory at Cadier & Keer, Cadier en Keer, Holanda
Faça a mesma viagem
Você também pode fazer a mesma viagem que eu e ainda incluir mais pontos históricos ao longo do caminho. É possível fazer a rota também a pé ou de bicicleta, tudo está sendo devidamente marcado na rota com placas. Dá para usar o app da Liberation Route, o qual inclui cada local histórico com informações detalhadas, incluindo um mapa integrado que te ajuda a chegar na localização. Também dá para acessar o site oficial e pedir dicas e sugestões da Liberation Route. A fundação possui planos de fazer um site em português.
Você já teve a chance de visitar algum desses locais históricos? Possui alguma pergunta sobre a Liberation Route?
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Fui convidada pela Liberation Route Foundation para participar em uma press trip em abril de 2017 para seguir a Rota da Libertação por Luxemburgo, Bélgica e Holanda. Estou orgulhosa e honrada em poder apoiar e ajudar a fundação em promover projeto tão incrível.