Em 2008 – quando eu ainda morava no Brasil – tive uma daquelas crises que a maioria de nós temos no meio da Universidade: será que é isso mesmo que quero fazer pelo resto da minha vida? E esse estágio chato? Quem nunca? Bom, esse era o meu caso. Por outro lado, sempre fui muito ligada à natureza e queria fazer algo útil para esse Planeta, ao invés de ficar fazendo apresentações no Power Point o dia todo.
Eu precisava de um tempo, de viajar, mas não uma simples férias. Eu queria achar um lugar longe de casa, onde que pudesse ajudar outros de alguma maneira; e eu tinha que ir sozinha, enfrentar o que eu tivesse que enfrentar por mim mesma. Então pedi demissão do meu estágio depois de encontrar a Fundação Jatun Sacha na Internet; e decidi participar do trabalho voluntário que eles oferecem em San Cristóbal, nas Ilhas Galápagos no Equador.
Claro que a minha mãe enlouqueceu com essa ideia, e pensou que eu não ia mais voltar para casa viva! Mas logo comprei minhas passagens e embarquei para a experiência mais maravilhosa que já vivi na minha vida. Depois de 12 horas no aeroporto de São Paulo e mais 8 no de Lima, cheguei em Quito com uma mochila nas costas, muita coragem e sem reserva para um albergue, no meio da noite.
Antes de embarcar de Quito para as Ilhas Galápagos, tive uma reunião na sede da Fundação Jatun Sacha. Me informei como seria o trabalho que eu iria fazer na ilha durante as próximas 3 semanas, e conheci pessoas maravilhosas, algumas delas vinham de outras reservas, e outras eram recém chegadas que nem eu.
Chegando no aeroporto de San Cristóbal eu sabia que não tinha mais volta, até tinha, mas não para mim, eu tinha que fazer isso! Mais tarde quando cheguei na reserva, localizada no topo de uma montanha rochosa e vulcânica, fui apresentada ao meu quarto, o qual eu iria dividir com pessoas muito legais e algumas aranhas horrorosas! Espera ai, aranhas? Ninguém me falou de aranhas!
Vendo minha cara de medo, falaram para não me preocupar, que as aranhas são amigas e comem os mosquitos! E eu pensei: danem-se os mosquitos! Vou dormir 3 semanas com o bicho que mais tenho medo nessa vida! Não demorou muito até eu conhecer os carmelitos – esses mosquitos são uns monstrinhos – e agradecer à Deus que aranhas existem!
A reserva ficava no meio da floresta tropical, verde para todos os lados e aquele cheiro maravilhoso de chuva pela manhã. Voluntários construíram o lugar, o qual tinha 2 casas grandes para acomodar novos voluntários, cada uma com 4 ou 6 quartos para no mínimo 4 pessoas, varandas com redes e banheiros separados fora das casas. Havia também a casa principal, onde ficava a cozinha e fazíamos nossas reuniões.
Focando no trabalho agora, todos os dias tínhamos uma pequena reunião para discutirmos o que cada um iria fazer, e assim dividíamos as tarefas entre grupos. Tínhamos muitas atividades para fazer, como auxiliar na cozinha até limpar a costa do Parque Nacional. Porém, nosso projeto maior era o de proteger as plantas nativas da ilha, eliminando plantas intrusas, coletando sementes das plantas nativas e plantando-as. Claro que fizemos muito muito mais do que isso, e aqui você encontra todas as atividades realizadas na reserva.
Não me importei com o trabalho pesado; isso me fez ver como esse Planeta precisa de todos nós de muitas formas diferentes. Foi fantástico plantar para depois comer; a maioria do que comíamos vinha das plantas que os voluntários plantaram ao longo dos anos – laranjas, limões, café, etc – esse fato foi muito gratificante.
Depois de um longo dia de trabalho, à noite todos se reuniam não casa principal, onde normalmente tínhamos nossas reuniões e fazíamos nossas refeições. Nosso coordenador tocava violão e cantava músicas em Espanhol, e eu brincava com a “Linda” e o “Nego”, os cachorrinhos da reserva. Depois íamos todos para o único bar ali perto, onde dançávamos e cantávamos.
Nos fins de semana todos iam para a cidade – a qual ficava embaixo da montanha, na praia, longe de onde morávamos – e aproveitavam o que lá havia: cafés, bares, restaurantes, e claro, mais natureza. Snorkeling, mergulho, acampamento, trilhas, tudo ali para a gente aproveitar. Alguns aproveitavam o tempo para fazer curso de mergulho, outros para se bronzear na praia, e eu decidi viajar pelas outras ilhas, mas essa aventura virá em outro post!
Quando deixei as Ilhas Galápagos, eu sabia que ia sentir saudades de tudo: dos amigos, do trabalho, da rede, do bar, do velhinho dono do bar, da praia, do Oceano Pacífico, das tartarugas, dos tubarões e dos leões marinhos, até mesmo das aranhas! Mas pensando bem, não sentiria saudade dos malditos carmelitos – eles quase comeram minhas costas! E eu sabia que estava deixando algo para trás: meu coração.
Então mostrei que a minha mãe estava errada – brincadeira mãe! – e voltei viva para casa, na verdade mais viva do que quando sai! Esse tempo me fez conhecer uma parte de mim que eu não conhecia, e eu nunca esquecerei isso.
Para os futuros voluntários:
A Fundação Jatun Sacha é uma organização maravilhosa, o trabalho deles é muito importante e valorizado no Equador. Além da Reserva Biológica de San Cristóbal, eles também oferecem outras reservas no país. No final do trabalho, você recebe uma carta de recomendação deles!
Eu poderia dar milhares de dicas, mas além de recomendar trazer uma coisa que se chama “after bite”, o único conselho que dou é o único que você irá precisar de verdade: vá porque você quer e com o coração aberto.